sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O CLUBE "CAMALEÃO" DE PERNAMBUCO


É muito comum hoje ouvir os apaixonados pelo futebol reclamarem que o esporte bretão está sendo dominado pelos interesses humanos mais mesquinhos, sobretudo aqueles movidos pelo dinheiro e disputas políticas. Isto fica evidente quando se aponta o caso dos clubes que mudam constantemente de nome e até mesmo de cidade, a exemplo de Grêmio Barueri/Grêmio Prudente e Guaratinguetá/Americana.

Mas será que isso é algo exclusivo dos dias atuais, do chamado futebol moderno? E será que o que motiva essas mudanças pode ser encarado apenas de forma negativa?

Pois bem, há um clube do futebol daqui de Pernambuco cuja história é um prato cheio para pensarmos questões desse tipo...

No dia 1° de janeiro de 1950 era fundada em Recife a Associação Atlética das Vovozinhas, clube que permaneceria na condição de amador até o ano de 1965. Infelizmente vou ficar devendo ao leitor o seu escudo...

Em 1966 o clube muda seu nome para Associação Atlética Santo Amaro e se profissionaliza a fim de disputar o campeonato estadual. Durante quase três décadas o Santo Amaro dividiu com o famoso Íbis Sport Club as piores campanhas do certame pernambucano. Mas certamente pode se orgulhar (ou não) de ter sido menos ruim do que o folclórico Pássaro Preto. Falo isto porque o Santo Amaro teve um momento de glória: a conquista do vice-campeonato da 3° divisão do futebol brasileiro, em 1981. Perdeu o título na final disputada em dois jogos contra o Olaria, do Rio de Janeiro. Abaixo o escudo do Santo Amaro:




Com dificuldades para se manter no profissionalismo, os dirigentes do Santo Amaro optaram por vendê-lo a um empresário dono de uma rede de farmácias, que aproveitou a ocasião para associar diretamente a marca da empresa ao clube. Foi assim que surgiu, em 1994, Associação Atlética Casa Caiada, cujo escudo é esse aí:



 
Logo no ano seguinte, 1994, o clube acabaria sendo novamente vendido, e desta vez mudaria seu nome para Recife Futebol Clube. No entanto, por mais paradoxal que possa parecer – justamente por causa do nome escolhido –, acabaria tendo sua sede mudada para a cidade de Goiana, fronteira com a Paraíba, localizada na Zona da Mata Norte do estado. Algum tempo depois, não lembro o ano exatamente, o Recife mudaria de cidade mais uma vez, desta vez para Timbaúba, a convite da prefeitura local, que prometera mais apoio financeiro e estrutural ao clube. Observem o escudo:

 
O Recife Futebol Clube tinha o vermelho e o branco como cores de seu uniforme, e o mascote era o Coelho. Da minha infância trago lembranças do quanto era difícil para os três grandes da capital – Náutico, Santa Cruz e Sport – ir enfrentar o Recife em seus domínios. O assombro maior causado pelo Coelho em sua história, no entanto, foi uma convincente vitória de 2 x 0 sobre o Sport, em plena Ilha do Retiro.

A trajetória até certo ponto brilhante do Recife, que incluiu a conquista de quatro Copas Pernambuco (1996, 1997, 2000 e 2002), duraria até 2004. Uma crise financeira do clube o levou a mudar de nome e cidade novamente. Batizado de Manchete Futebol Clube do Recife em 2005, o clube disputaria o Pernambucano daquele ano como representante de Paulista, município importante da Região Metropolitana do Recife.

Devido à pífia campanha do time no campeonato - o maior lanterninha do século XXI em PE -, o Manchete não conquistou a população paulistana, nem conseguiu manter o apoio da prefeitura para que continuasse a funcionar. Desde então, o clube está licenciado do futebol pernambucano. Sobre o escudo do Manchete, é comum encontrar na internet este escudo abaixo como sendo o legítimo do clube:


Todavia, uma consulta ao site da Federação Pernambucana de Futebol mostra que o escudo verdadeiro do Manchete seria este a seguir:


Como o leitor pôde acompanhar, a história desse clube "camaleão" pernambucano nos revela que as mudanças clubísticas de nome e cidade no futebol não é um fenômeno recente, ao menos no Brasil (mas creio que na maior parte do mundo, também), e sim algo que é inerente à própria dinâmica que rege a prática do futebol em termos institucionais, em especial no que diz respeito à luta pela sobrevivência por parte desses clubes ditos pequenos.

É claro que isto incomoda a muitos, inclusive a mim, pois não possibilita a criação de uma identidade duradoura ou "autêntica", um sentimento de pertencimento que una um clube aos indivíduos de um lugar qualquer, formando aquilo que chamamos de torcida. Julgar como algo ruim situações assim é algo compreensível, portanto; mas daí a achar que determinados clubes deveriam "morrer" ou ser extintos apenas porque pertencem a donos que de tempos em tempos promovem mudanças profundas nos mesmos, visando interesses pessoais imediatos, aí já considero um pouco de exagero.

Para o bem ou para o mal, tais clubes ainda são o único espaço encontrado por milhares de jogadores para mostrar seu futebol, sejam aqueles iniciantes que sonham com o estrelato num grande clube, ou ainda aqueles que infelizmente não conseguiram alcançar tal condição mas precisam sobreviver do ofício da bola.

E mesmo que você, leitor, não concorde com o que escrevi, o que respeito absolutamente, ao menos comemore o fato de que clubes assim, tal como o Vovozinhas/Santao Amaro/Casa Caiada/Recife/Manchete, sempre renderão boas histórias, camisas e escudo a nós, amantes do futebol!







2 comentários:

  1. Lembro demais do saudoso Recife FC (pra mim sempre será o Recife) por um bom tempo dando dor de cabeça aos times da capital, tinha o Central de Caruaru como freguês, mas depois que mudou o nome para Manchete deu tudo errado, muita saudade!!

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  2. Lembro demais do saudoso Recife FC (pra mim sempre será o Recife) por um bom tempo dando dor de cabeça aos times da capital, tinha o Central de Caruaru como freguês, mas depois que mudou o nome para Manchete deu tudo errado, muita saudade!!

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